Mundos da Lusofonia

Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. 

Sou irritável e firo facilmente. 

Também sou muito calmo e perdôo logo. 

Não esqueço nunca. 

Mas há poucas coisas de que eu me lembre.

Clarice Lispector

A língua portuguesa é uma das mais faladas do mundo.

Com a língua, há todo um universo partilhado de modos de ser e de estar, vivências acumuladas no sedimento de sentidos que as palavras captam: «A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rastro».[1]

Mas também é longa a distância. Só muito enganadoramente poderemos pensar que sabemos o que é ser brasileiro, angolano, moçambicano, cabo-verdiano, guineense, timorense ou são-tomense porque partilhamos a mesma língua. Será a mesma língua, mas nem sempre as mesmas palavras e estas nem sempre sedimentaram o mesmo sentido. Porque «o que nos faz ser pessoa não é o Bilhete de Identidade. O que nos faz pessoas é aquilo não cabe no bilhete de identidade».[1]

A literatura de cada um destes países expressa esses outros universos de vida que nos são, por vezes, tão distantes. 

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

                                                        Cora Coralina


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